Por Edilson José Graciolli - Doutor em Ciências Sociais I Docente Aposentado da Universidade Federal de Uberlândia
Se considerarmos a falência do PSDB (que há muito havia deixado de ser socialdemocrata para dar lugar à ideologia e programa neoliberais) pode parecer estranho que se conclame ao fim do legado do ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, que presidiu o país entre 1995 e 2002.
Entretanto, se tivermos em devida conta que, junto com o combate à inflação pelo Plano Real, se fortaleceu naquele período, de forma mais robusta ainda, o modelo econômico pró-rentismo, assentado no tripé macroeconômico de meta fiscal, meta inflacionária e câmbio flutuante, precisamos concluir que os pilares desse modelo econômico que destina crescentes volumes de recursos aos rentistas que possuem títulos da dívida pública estão, tragicamente, absolutamente em pé e pautam toda a política econômica dos governos e até mesmo de suas bases parlamentares e na própria sociedade civil.
O “príncipe dos sociólogos” (sic) que proferiu a palavra de ordem pelo fim da era Vargas (cf., a respeito, a matéria na Folha de São Paulo, que se acessa pelo link https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/2/14/brasil/26.html) e que esta deveria dar lugar à introdução da reengenharia no governo – em clara alusão à reforma administrativa gerencialista, ao programa de privatizações, à abertura econômica-financeira e, antes de tudo, à desregulamentação de direitos sociais (previdenciários, trabalhistas, de acesso à saúde e educação públicas em todos os níveis) nos deixou uma herança – esta sim! – maldita.
O dramático é que todos os governos, desde então, foram gestores do mesmíssimo modelo econômico a favor dos rentistas, sem exceção. Os recursos que faltam às áreas sociais (saúde, educação, segurança públicas, previdência, infraestrutura, inovação tecnológica, política industrial) escoam por esse ralo que sangra a nação.
A pergunta que não pode calar, hoje, na campanha eleitoral e no próximo mandato do Executivo e futura legislatura é: haverá proposta de governo e ações a ela correspondentes para pôr fim à era FHC? Ou se continuará a buscar, a todo custo, a meta fiscal, esquecendo-se de que os recursos públicos aportam ao rentismo 33 vezes o que custará o plano Brasil Soberano? Ou o dobro do que custa, anualmente, o Plano Safra? O Sistema Único de Saúde é subfinanciado desde sua origem e essa situação inaceitável seria facilmente alterada se a ele fossem destinados recursos que hoje vão para as mãos dos rentistas. Eis três exemplos do que significa a prioridade dada ao rentismo, em detrimento das chamadas áreas sociais, mas também a um novo projeto nacional de desenvolvimento.
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